24 de nov. de 2006

Deu na Folha


JANIO DE FREITAS

CPI na parede

Ou a CPI dos Sanguessugas faz agora investigações que tem evitado, ou se desmoraliza antes do final

O VALOR DA denúncia de Expedito Velloso na CPI dos Sanguessugas, sobre pagamentos ilegais de gastos da campanha presidencial de José Serra em 2002, depende de investigações, mas desde logo o ex-diretor do Banco do Brasil prestou um serviço útil, ainda que involuntário. A CPI tem sido ostensivamente tendenciosa, com tanto interesse em comprometer determinadas pessoas quanto descaso por esclarecer, de fato, a criação e o desenvolvimento do vasto e duradouro assalto ao dinheiro público sob atos de auxílio à saúde pública. Ou a CPI faz agora investigações que tem evitado, ou se desmoraliza antes do final.

O descaso por investigar as relações entre o empresário Abel Pereira e os donos da Planam, a fornecedora de ambulâncias e de propinas, ficou comprovado na tardança para inquiri-lo e na leveza da inquirição. O mesmo se deu em relação ao ex-ministro Barjas Negri, da Saúde, junto a quem Abel Pereira foi dado pelos donos da Planam como intermediário à época (e talvez depois, também, com Negri como candidato e como atual prefeito de Piracicaba).

Travestido teatralmente de Ideli Salvati ou Henrique Fontana, quando tiveram seus piores momentos petistas na CPI dos Correios, o peessedebista Carlos Sampaio esbanjou-se em protestos e insultos ao depoente Velloso, por dizer na CPI o que não consta do seu depoimento à Polícia Federal. Se era para dizer aos parlamentares só o que disse na PF, para quê ouvi-lo na CPI? Carlos Sampaio e seus colegas de tendenciosidade não precisariam de mais do que ler o depoimento já feito, do qual têm cópia. O problema não foi o que Velloso deixou de dizer na PF, mas o que não deixou de dizer na CPI. Com a implicação que tem sobre a conduta da CPI até aqui, induzida sobretudo pelo PPS e pelo PSDB, e daqui por diante.

É possível que a denúncia de Expedito Velloso limite-se a um subterfúgio, mais um. Mas, para confirmá-lo ou não, só com investigações que têm faltado. Do contrário, os petistas também vão dispor de uma pergunta, pouco importa se apenas perversa como sua inspiradora: "Serra, de onde veio o dinheiro?".

Folha de São Paulo, quinta-feira, 23 de novembro de 2006

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